quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Urgências

Eu vim lá do sul. Trabalhei muito por lá. O patrão é holandês. Quer dizer, nasceu aqui, mas a família veio de lá de longe, sabe? Fez de tudo o pai dele. Diz que quando comprou um terreno, foi lá ver e era golpe. Foi pro zero mais zero do que tava antes. Mas não desanimou e pegou na enxada e fez o que fez. Arranjou um jeito de ir juntando aqui, ali, daí quando pude, não partiu pro luxo não. Investiu. Comprou uma casinha, alugou e continuou morando em qualquer canto por ai. E assim foi. Comprou uma fazenda pequena e uns bois. Depois plantou um pouco até de café. Hoje a família vive bem. Esses quilômetros aí que você tá vendo, desse horizonte daqui até aquele outro lá... Tudo deles. Vim pra cá foi pra cuidar da fazenda deles, que já confiavam em mim. Quando compraram lá de longe, disseram Lucas, vai você lá que em você nóis confia. Fui. Oito anos já. Estão perdendo dinheiro aqui. Porque a chuva foi embora. O pessoal pensa que vai chover, planta isso tudo, e aí não cai água do céu. Vão ter que cortar custo. Mas o que é que é custo nessa terra? É o veneno, o fertilizante... E a gente. A peãozada tá tudo preocupada aí. Tem cada um fazendo mandinga mais braba que o outro pra trazer essa chuva. Se tivesse como, iam lá eles mesmos de baldinho jogar água nas folhas.

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