terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Tal pai

Um quarto lá nos fundos. Recluso, destacado da casa. Há um quintal no meio, um espaço para lembrar que ele não pertence ao projeto principal. Sobe-se uma pequena escada, estreita, mal iluminada. A porta está trancada. Sempre trancada. Abro a porta e é difícil distinguir entre os objetos internos, por causa da escuridão. Cheiro de poeira. Cheiro de banheiro. Cheiro de roupa usada. Ar denso. Livros. Há livros. Livros por todos os lugares. Uma escrivaninha cheia de livros empilhados. Uma estante no canto. Cada prateleira tem duas fileiras de livros. Na parede contígua, à esquerda, outra estante. Livros e livros e livros. E mais uma pilha deles no chão. Por entre caixas empilhadas. Galões de água. Muito esperto ter galões de água guardados nessa época. Mais úteis que os livros. E roupas jogadas. Roupas sujas misturadas com roupas limpas que não foram dobradas. Saíram do varal e foram direto para aquela montanha de pendências. Isso tem muito a ver com ele. Eu esperaria que ele morasse em um lugar assim. Não há nada aqui para aparentar algo aos outros. Pelo contrário. É uma bagunça exagerada. Tudo o que é aparência é secundário. As roupas desarrumadas. Os tênis jogados. A gaveta de meias totalmente bagunçada. Mas seus interesses se acumulam em montanhas. Montanhas de livros. Sonhos. Sonhos de pensamentos, conhecimentos, curiosidades saciadas. É um lugar insuportável. Mas me identifico.

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