Mais uma vez, a morte passou perto. O barulho da lataria amassando, do vidro estilhaçando. E da borracha raspando contra o asfalto. Memórias confusas, enevoadas. Distantes como se fosse já há décadas. Foi há menos de trinta horas. Ter acontecido o que aconteceu foi azar. Um carro colidindo com outro. A capotagem. Os pedestres surgindo no meio da pista, saídos daquele breu negro na última hora. Mas foi sorte também. Não colidimos de frente com outro veículo. Não desviamos para cima daquela família de andarilhos. Não batemos contra uma árvore quando capotamos para fora da estrada. Não ficamos prensados nas ferragens. Não quebramos um osso sequer. Nossas pernas ainda funcionam. Foi só ferro torcido e um grande susto. Mas é difícil acreditar nisso, vendo as fotos. Não gosto de ficar flertando com a morte assim. Tivemos nossa culpa. Todos tivemos. Vamos passear? Vamos ver a cachoeira? Vamos ver a reserva? Vamos, vamos, vamos! E vamos comprar mais cerveja e vamos bebendo o caminho todo. Fizemos as contas depois. Foram seis packs e meio de cerveja. Em cinco pessoas. Detalhe: eu praticamente não bebo, devo ter bebido três latinhas. Detalhe: não era eu dirigindo. Por que eu não exigi a direção? Que idiotice, quanta idiotice! Não gosto de flertar assim com a morte. Mas a gente deixa. A gente sempre deixa. Sempre acha que não vai ser dessa vez. Na hora, quando o acidente mostra que vai acontecer, não há mais nada para fazer. Gritos de FREIA! DESVIA! VOLTA! DIREITA! ESQUERDA! Nada mais funciona. De repente, quem está dirigindo o veículo é a inércia e quem faz as curvas são os obstáculos à frente. Dessa vez escapei. Escapamos.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
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