quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Melhor não saber

Quando vou morrer? Podia ter sido no último assalto. Faltou só o cara puxar o gatilho. A arma já estava apontada, tudo certo. Podia ter sido no último minuto. Num ataque qualquer. Pode ser que seja amanhã. Semana que vem. Ou pode ser que eu ainda tenha algumas décadas. Você pensa nisso? Pensa em quanto tempo lhe resta? Observa a vida como uma ampulheta cuja areia vai acando? Como essas barrinhas do computador quando um programa está sendo instalado: 73% completo? Não sabemos. Em geral não sabemos. E por não saber, assumimos sempre algo melhor do que as possibilidades mais realistas. Assumimos que ainda há muito tempo pela frente, o que não é necessariamente verdade. É humano isso. É como estamos tratando a água em São Paulo. Até que alguém diga com todas as letras que o problema é profundamente sério, e até que comece a faltar água e energia elétrica mesmo, as pessoas seguem acreditando que algo vai acontecer para salvar-nos da seca iminente.

Eu não consigo entender se é uma característica da nossa geração ou se é profundamente humana. Mas é fato: não sabemos lidar com más notícias. Verdades ruins são gerenciadas de um modo muito simples: não são ditas. Riscos diários, quer seja de cair no banheiro ou de morrer num acidente de carro ou com a explosão da panela de pressão, são completamente negligenciados, enquanto nos distraindo com toda uma mitologia do pânico em torno de coisas absurdamente seguras, como vôo de avião comercial. Somos uma espécie única no mundo, talvez em toda a história da vida na galáxia, em nossa capacidade de saber. Mas, ainda assim, preferimos não saber.

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