quinta-feira, 19 de março de 2015

Encaixes

Namorei a distância. Por três anos. Conheci meu namorado em uma viagem para a Austrália. A gente se deu bem, só que quando voltou, era ele numa cidade e eu em outra. A gente se via a cada quinze dias. As pessoas me falam que o namoro acabou pela distância. Eu não acho. O que aconteceu com a gente, sim, foi em parte o amor, mas foi algo mais maduro que isso. Decisões de vida. Ele queria trabalhar em uma empresa em São Paulo, no ramo de Administração, que ele estava estudando. E eu iria para o norte do país, cuidar de uma das fazendas da minha família. Ele poderia vir junto. Ou eu poderia abandonar as fazendas e buscar uma vida na cidade, algo que eu já havia decidido abandonar desde que decidi não seguir a carreira de advogada (mesmo tendo passado na OAB). No fundo, eu não acharia justo ele abdicar dos sonhos dele para viver comigo, e eu também não estava disposta a fazer algo de que gosto, a levar um certo tipo de vida, para tentar ver onde nossa vida a dois iria parar. Existem pessoas que se encontram com objetivos de vida complementares. Outras até que trabalham na mesma coisa, buscam o mesmo ideal. Acho que no final das contas essas coisas são mais fortes que o amor romântico em si, do que aquele sentimento com que toda menininha nova sonha ao ver um filme da Disney. Até onde podemos ser parceiros um do outro? Até onde estamos dispostos a seguir outra pessoa ou a suportar a distância? Namorar se vendo de quinze em quinze dias foi algo que funcionou muito bem. Nosso problema foi a distância enquanto para a maioria dos casais o problema é a proximidade. Dois lados da mesma moeda. A dificuldade de encaixar vidas, um encaixe que acaba sendo muito mais difícil do que o encaixe de corpos (que é a preocupação imediata de muita gente).

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