terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Adultério

Estou há vários dias pensando sobre o assunto e não consigo chegar a merda de conclusão nenhuma. Na natureza não há um absoluto sobre isso. Adultérios são certos ou errados? Não há resposta para esta questão. Depende apenas de convenções. Há questões que a natureza responde. A qual temperatura a água ferve? Cem graus. Se eu soltar uma pedra, ela vai para cima ou para baixo? Para baixo. Adultério é certo ou errado? A natureza não está nem aí com isso.

Certo ou errado para quem? Para mim? Para você? Para a esposa traída? Para o marido traído? Para os filhos do casal traído? Para os filhos do Ricardão? O mundo é uma teia de pontos de vista diferentes tentando harmonizar-se. Mas nem todos os pontos de vista precisam se misturar demais. É claro que há questões práticas. Gravidez. Doenças. Mas, com os cuidados certos e a devida atenção a informações, entendo que estas possam ser vistas, hoje em dia, como questões à parte.

Tenho um amigo que está noivo. Vai casar em menos de um mês. E saiu nesta última madrugada para encontrar uma amiga sei lá onde. Uma amiga que não via há algum tempo. Vão à casa dela na praia, já que a pria não está tão longe assim e é certamente mais confortável que qualquer motel. Já eu, não estou noivo, apenas namoro. E vivo insistindo comigo mesmo que não devo me sentir culpado toda vez que eu "traio" minha namorada em pensamento. A palavra chave é essa: culpa. Sociedade de culpas em que vivemos. Culpa faz mal. Gera um sofrimento e ainda, automaticamente, nos faz associar este sofrimento à outra pessoa. É parte do processo de desencantamento. Se eu me culpar demais por não poder pensar em outras pessoas enquanto estou namorando, em pouco tempo a solução vai ser parar de namorar.

Mas há pessoas que vivem o mesmo sentimento com relação à atividade prática. Gente de maiores concretismos que eu. Gente que faz. Tem os bem resolvidos e tem os acidentais. Aqueles que as circunstâncias, de repente, os colocaram nessa situação. Aquela pessoa que você nunca imaginou que lhe daria bola mostrou interesse bem agora, que você já está namorando. Aquela amiga de muito tempo atrás apareceu e, dessa vez, rolou alguma coisa. Não daria para deixar para depois. Ou desfazer temporariamente o namoro. O moralmente correto seria simplesmente dizer não. Mas quando foi a reunião em que definiram o que seria moralmente correto e o que não seria? Eu não fui chamado! Daí que me sinto, com alguma frequencia, vítima de leis que não inventei. Se na área política, mal e porcamente, capengamos ainda para criar uma democracia que funcione, na área sentimental vamos muito pior. Misto estranho de ditadura com anarquia. E o conceito de diplomacia ainda nem foi descoberto.

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