segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Amor de Elite

-Nossa Adoniran, eu como mãe, eu fico doida, sabe? Tinha que ver quando minha filha conheceu o Lucas!

-Como foi? O que aconteceu?

-Ah, a Letícia, aquela retardada, saiu com ele e me falou que ia voltar até meia noite, sabe?

-E aposto, claro, que ela não apareceu.

-Não, e você não sabe. Começou a passar do tempo, e eu na minha. Sei lá, a gente sabe que pode atrasar um pouco. Só que daí deu uma da manhã. E nada. E eu não me aguentei e liguei pra ela. Pois não é que o celular dela toca lá no quarto? A anta esqueceu! Largou o celular em casa!

-Que idade ela tinha na época?

-Tinha dezoito. Mas sou mãe. Não importa se fosse dezessete, dez ou trinta. Ela tava fudida na minha mão porque eu comecei a me morder de raiva, sabe? Mas de desespero também. A gente começa a imaginar. E se aconteceu alguma coisa? Eu sabia o celular do cara. E o nome e sobrenome dele. Pois resolvi ligar pra esse tal de Lucas.

-E aí? O que foi que ele falou?

-Falou? O filho da puta nem atendeu! Aí é que eu fiquei louca mesmo! Adoniran... imagina uma mãe... a filha sai com um cara, você não sabe onde ele mora, nunca tinha ouvido falar dele... E não volta. E eu comecei a me martirizar. Queria me matar ali mesmo. Quer merda que eu tinha feito, deixado ela sair assim? A gente não quer ser sempre a mãe louca que não deixa a filha fazer nada, mas daí quando acontece essas coisas a gente se sente idiota, impotente. Mas eu não fico parada não. Liguei pro Gilmar.

-Seu ex-marido?

-Que ex-marido que nada! Naquela época o Oswaldo nem isso era. Nem isso! Aquele traste tava jogado na cama e não queria saber da história não. Até fui falar com ele. "Ela não chegou e você não sabe onde ela está. O que quer que eu faça?" Larguei ele dormindo lá. Mas o Gilmar não... O Gilmar é um amigo meu que trabalha no GOE. Na verdade, era quase cinco da manhã já quando eu liguei pra ele.

-Nossa! E aí?

-Aí que ele já me xingou até não poder mais ali, na hora. Mas me falou assim: "Ká... eu vou trazer sua filha. Não sei como, mas que eu trago, eu trago!". Ah meu amigo, eu tremi na hora, ainda tremo só de lembrar. Porque eu entendi o que ele falou, sabe? Viva ou morta, foi isso que ele quis falar. E eu tremi. Pois eu passei o telefone, o nome e sobrenome do Lucas. E lá eles foram. Só sei que minha filha estava no apartamento com o Lucas. Contou que o assim que ele ligou o telefone, o aparelho já tocou. E o Gilmar berrou do outro lado: "quero a Letícia aqui embaixo na portaria agora!". E ele nem sabia quem estava falando. Perguntou quem era e o Gilmar berrando. "Aqui embaixo, na portaria, agora!". O Lucas morava no terceiro andar. Olhou pela janela e viu umas quatro viaturas do GOE lá embaixo! Tremeu todo. Minha filha conta que ele até gaguejava! Daí ele desceu, tentou esclarecer a história mas tomou o maior esporro da vida dele, claro.

-Minha nossa! E sua filha nunca mais viu ele né? Que susto qu esse cara deve ter passado... Deve ter ficado seis meses sem nem paquerar ninguém.

-Que nada! Ele e minha filha estão casados. Casaram dois anos depois.

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