-Desde que, na infância, descobri Chico Buarque, tenho essa dupla sensação de maravilha descoberta e de que nada mais será tão belo.
Cecília, querida amiga, me entristece com essas palavras. Terminamos o chá. Rimos de fofocas triviais para encher os silêncios. E vou embora pensando na tristeza daquela declaração. Não desmerecendo em nada a obra do venerado Buarque, mas creio que minha querida amiga padece desse distúrbio de percepção que chamo de Fixação nos Absolutos. Somente o referencial absoluto importa e todo o resto perde escala.
Ela me lembra um amigo meu, Ricardo, que não conseguia ouvir, por um segundo que fosse, uma criança brincando com um instrumento musical.
- Cacete, que barulheira dos infernos! Vai aprender a tocar primeiro antes de sair por aí fazendo barulho!
E eu ali, maravilhado com o aprendizado acontecendo espontaneamente, diante dos meus olhos. E meu amigo, injustamente, comparando aquelas crianças com seus referenciais musicais abolutos, seja de rock, música clássica ou o que for.
Quanta injustiça cometemos contra nós mesmos, desprezando nossas capacidade de apreciar.
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