sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Realizações

Ontem eu acordei e fiz café para mim mesmo. Sozinho.

Fervi água para café solúvel.

Lavei as laranjas e fiz uma bela laranjada. Elas estavam na geladeira, porque assim eu tenho laranjada gelada sem gelo.

Saí de casa. Dei bom dia para as pessoas na rua. Brinquei com um cachorro que vinha por ali, e mais adiante fui ignorado por um gatinho que fugiu dos meus primeiros "psss-psss-psss!".

Não resolvi a causa feminista.

Não me informei sobre os novos ministros.

Não impedi a destruição da Amazônia.

Sei que o pedaço de frango que comi no almoço vinha de produção industrializada.

Mas sorri para o garçom e para a moça do caixa que cobrou a conta.

Não assaltei ninguém.

Mas não impedi nenhum assalto.

Mas não fui assaltado.

Na média, o quão útil foi minha vida hoje? Fico com uma sensação boa de ter tido um dia prazeroso. E com um peso na consciência por não ter feito o bastante. O mundo é cheio de urgências. Tão cheio de urgências, e com tantas pessoas as ignorando, que talvez um dia de descanso, um dia ao acaso, já seja luxo demais. Escândalo inaceitável. E amanhã? E depois?

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