quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Neosaldina

Estou suando. Sinto-me um porco girando no rolete, em cima do fogo. Mas não há fogo. Estou sobre a cama. Quarto apagado. Estou suando. Resolvo deitar para cima. Virado para o teto. Meditar até a preguiça desabar. A preguiça não desaba. Meus pés grandes querem cair para os lados. Não ficam na posição certa. Essa percepção me distrai. Gotas de suor escorrem da minha testa. A dor de cabeça está piorando. O lado direito do meu crânio pulsa a cada batida do coração. Uma bexiga prestes a estourar. Parece de borracha. Escuto o barulho das minhas pulsações. Provavelmente porque meu ouvido está comprimido contra as veias quentes e dilatadas. Minhas veias devem estar suando também, por dentro. Sinto-me um porco, metaforicamente falando. Quando eu era criança, achava que só velhos nojentos eram capazes de suar assim. Talvez eu já seja um velho nojento. Ainda que prematuramente. Resolvo virar de lado. Giro para a direita. Agora meu corpo parece pressionar meu coração. Meu braço direito está caído sem ter onde se apoiar e meu braço esquerdo está atrapalhando o corpo como um todo. Gostaria de desrosqueá-lo e deixá-lo na prateleira, mas não fui construido assim. Que projeto zoado. Estou suando. Deito de bruços. O rosto não foi feito para deitar de bruços, nariz contra o travesseiro. Quero uma cama de massagem, dessas com um buraco para solocar a cara. Nenhuma ninfeta gostosa viria me massagear. Não assim suado. Acho que aqueles óleos de massagem foram inventados para elas terem coragem de massagear velhos gordos nojentos. Vá lá, velho gordo. Tome um bom banho e quando voltar eu lhe passo esse óleo nas costas. Assim quando começar a suar vou achar que é o óleo e não vai parecer nojento. Disfarça. Quero melhorar logo. A febre parece piorar. Está calor, não está? Às vezes parece que está frio. Se eu prestar atenção, posso sentir o dedão do meu pé pulsando também. Meu coração vai estourar. Parece que vai estourar. Minhas mãos não sabem onde ficar. Com os braços esticados, a cara fica amassada demais contra o travesseiro. Deixo o braço esquerdo dobrado sobre o rosto. O direito fica esticado mesmo. Com a mão caída para o lado da cama. E se alguma aranha me picar? Tem aranhas nesse quarto? Tem muito bicho aqui. Uma gota de suor escorre pela ponta do meu dedo. Antes de sentí-la cair, adormeço.

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