Não consigo resistir. Vindo de uma cidade pequena, sinto-me conectado à vida das pessoas próximas. Assim, sei que minha vizinha trabalha na prefeitura, uma informação que não deveria me interessar. Uma outra coisa que parece ser cacoete de gente de cidade pequena: eu me interesso pelas notícias. Vejo o nível das represas e essa parece ser, no momento, a questão mais importante para esta cidade. Só que a cidade não acha isso. As notícias sobre as chuvas e o total sumiço das notícias de falta de água nas represas parecem sintomáticas de um sentimento de hollywoodianismo profundo. Algo que não se cura com cinco ou dez aninhos de terapia. Talvez isso explique porque, todos os dias, eu escute minha vizinha lavando o quintal. Mangueira na mão, aquele fiozinho de água saindo sem parar enquanto ela molha aqui, varre, molha ali, varre, molha ali mais um pouquinho, e assim vai por uma hora, uma hora e tanto. Já está chovendo, não está? Não há mais problema com as águas. Essa minha vizinha é louca. Essa cidade é louca. Talvez a humanidade inteira esteja condenada às suas esquizofrenias incuráveis.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
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